segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Ao desejo dos tempos

Eu havia viajado por três anos, havia estudado as estrelas, havia parado e continuado, eu havia morrido. Eu havia conhecido Kathmandu, Nagpur, Hyderabad, estacionado em Mumbai e concluído que aquela cidade é o que realmente dizem dela. Eu havia me tornado uma pulga e caminhado pelas costas de um camelo, eu havia descido de uma Vamina após confrontar meu deus, mas foi em Agra que estacionei.
Depois de três anos eu havia perdido os sapatos, colhido algodão e tecido novas meias, eu havia encontrado algumas poucas jóias e delas feito um tesouro tão belo que só se comparava aos mais ricos colares do grande Mogul. Eu havia mendigado e cantado aos Vedas, eu havia caído e me levantado sobre treze luas, eu era o mundo que me rodava, mas foi andando sozinho, sorrateiro por sobre o jazigo de Mumtaz Mahal que compreendi. Em Agra eu havia renascido.
     Eu havia sido pobre e rico e em todos os prazer me igualei.
     Eu havia descansado e dormido e todas as dores senti.

     Eu havia sido grande e mínimo e todo tipo de júbilo me vi gozar. 
Eu havia caminhado e parado por entre mil continentes, pois o maior império da terra agora era meu. Escalei as muralhas que protegeram a China do grande Khan, encontrei as cidades perdidas que rondam Kabul (e cuja existência poucos souberam intuir), vaguei pelo deserto dos curdos sem ter um guia, mas sem jamais cogitar me perder. Tudo à Mumtaz Mahal. Hoje a pérola de Alá, majestosa gota derramada na face da história, está dentro de mim. Acalanta meu sono enquanto penso no sol, distanciando-se em meu encontro, erguendo-se altiva quando me vou (pois não quer me queimar). O que haverá de ter sentido Shah Jahan quando, terminada demanda, pode descansar nos braços de suas virgens ("oh" teria dito ele "que desgosto a existência")? A mim, que não sou pó nem deus, só resta continuar, talhar meus próprios impérios, fundar capitais, erguer palácios e procurar em cada uma destas peças o odor que uma vez senti. Em Agra aprendi a ser eterno.




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Qualquer coisa que se encontre aqui é pornográfica. Mas apenas no ponto de transição onde nos encontramos. Tome o que valha nesse desafortunado ócio das auto-satisfações compulsivas.

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