sábado, 19 de abril de 2014

Láuria

Ela abria as pernas como se lhe rasgasse a alma, dividida, partida feito o pão em oferenda sagrada, mas de casta não tinha muita coisa, talvez a vergonha de dizer sim todas as vezes, pois era o modo como me tratava: permissiva. Todas as vezes, repito, dizia sim e se rasgava por isso (ou, pelo menos, era o que eu pensava). Creio que quase toda mulher lida com a passividade inerte deste modo: dando-se numa entrega imaculada de carnes e vinhos - alimento - antes e depois do sexo, à premissa de que é partindo as próprias entranhas que receberá sua força de cura; pois toda mulher é assim: todo feminino, aliás, tem acesso a estes dons da cura mesmo que renegue (e é seu direito o fazer, claro). Eu pegava o telefone, dizia duas, três palavras, então Láuria estava pronta – sempre – te espero não sei onde e lá íamos, geralmente um motel ou a pequena casa de campo que possuo, mais retirada da cidade. Eram momentos que, através de segundos descuidados, eu a via rasgar-se inteira, ao meio (geralmente no que eu a penetrava): cedia-se como o firmamento a um raio dos céus, um insignificante raio dos céus. Aí, depois de todas as libações, imaculada em gozo acalmava-se em mim, quieta. E nunca julgarei (ou perguntei) o que haveria de pensar; era uma reza sua, branda, calma. Hoje vejo que eu sempre e somente a procurava em momentos difíceis; como eu disse, ela nunca se negava a mim. Jamais tive tanta certeza do aspecto divino de um ente, de um ser por assim genérico (seja ele “mulher” ou “feminino”) como quando com Láuria.

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