quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Penumbra

"Entre os sexos há uma paz de corpos que não se exibe, pois permanece estacionada enquanto os guerreiros configuram seus papéis"
Emanuel foi quem me disse. Numa noite aí. Nunca entendi direito esta frase. Sempre pensei que o sexo fosse guerra, luta dos membros, das conjunções em atrito. Emanuel. Que sempre me pareceu tão sereno em seu jeito de ser, discreto, ao levar as coisas da forma mais ordinária possível, de gozar com os amigos um vinhos. Certa noite (pra falar a verdade há alguns anos) eu voltava pra casa, dobrava uma esquina aqui, outra ali e me deparei com um casal na rua. No escuro (como em todo clichê depravado) me escondi. Lá estavam: se esfregando enquanto eu observava, agachado no mato, olhando com gosto. Mão vai, mão vem, breu de película, eu já de pau duro e os dois dê-lhe amasso. Somente depois de algum tempo fui perceber que eram dois caras. Aí fique mais excitado ainda - pelo meu ingênuo pensar no desconexo da cena: tão perto de casa. Quem seriam? Ah, curiosidade. A gente deseja poder sobre a vida dos outros, saber das coisas pra poder dizer que não e. Um deles virou as costas pro outro, se apoiou na parede escura, abaixou a calça no ponto exato que só serve pra abrir a bunda - e abriu. O outro se afastou um pouco, muito escuro o lugar, se afastou, acho que cuspiu na mão (certeza que sim) e enrabou o outro.
E foi só.
O enrabado? Era Emanuel. Eu havia ido embora logo a festinha começou. Não conseguia enxergar muita coisa e se chegasse mais perto eles iriam perceber. Mas como fui saber que o sujeito era Emanual, ali, no meio daquela escuridão toda? Simples. Ele contou. No mesmo dia que disse a tal frase lá em cima. Emanuel. Um grande amigo que tenho há sei lá quantos anos. Eu, ele e tantos outros no Café MafaldaFalávamos sobre sexo, pornografias, sobre a vida, o quê desse (fiz questão de marcar a frase num guardanapo. Passei a limpo em casa depois):
"O sexo é um felino agourento que apenas busca sua presa. Nós. E não é na matança de seus ratos que ele faz a festa, mas na calmaria que é sentir-se vil, incompleto. Ele a fera, nós a presa, um ato... (daí, o Emanuel parou, olhou bem pra nós, virou goela a baixo o copo de vinho que segurava na mão e disse) ...Entre os sexos há uma paz de corpos que não se exibe, pois permanece estacionada enquanto os guerreiros configuram seus papéis"
Sempre me demorei ponderando essa frase - toda vez que a leio no meu caderninho. Ainda mais por ela ter vindo junto com o relato da tal cena noturna (revelada pelo próprio Emanuel, não se esqueçam). Tenho saudades de alguns tempos. Dos amigos que só vem com esse tipo de tempo. Proveitos da divindade que somos. Ah! Emanuel: um grande abraço pra você, meu velho!

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Qualquer coisa que se encontre aqui é pornográfica. Mas apenas no ponto de transição onde nos encontramos. Tome o que valha nesse desafortunado ócio das auto-satisfações compulsivas.

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- Sexo sempre com segurança.

- Não a qualquer tipo de discriminação e preconceitos.

SEMPRE NOS LIMITES DA LITERATURA E DA PORNOGRAFIA. ESSE JOGO, PARA NÓS, É O QUE DÁ TESÃO...
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