O Jazz como eu nunca havia ouvido. Não havia ouvidos para aquele sim que ela gritava intensa, estridente e entre os dentes brancos e largos, negra mais que a escuridão (pois meus olhos a atravessavam em perder de vistas). Se não abrisse direito a boca, ah, me morderia as orelhas firme até arrancar o sangue negro que por mim corresse. Então vieram aqueles esses em transe, seus, sim, sós, altos e agudos, destoando e se fundindo coeso ao trotar dos metais. A mulher debatia-se em trapos, os sujeitos a sua volta gritavam – todos negros – qualquer um que aparecesse seria negro, o vermelho do sofá (até às manchas), a frenética luz das lâmpadas, o puro leite que saísse de qualquer um de nós, ali, seria escuro e grosso feito o petróleo que os Yankees usavam para nos coagir. Eram os oitenta, alguém dado aos clichês comentaria, mas eu não. Diria que eram anos sempre e até então a me retorcer. O cérebro em memória, a euforia de um eu (jovem, sim) em busca dos oitenta antes, os anos vinte – perdidos numa geração inteira, maldita, alguém lembra? Pra mim era isso, mas ah! Aquela negra desatinou, desmentiu o espírito, o sentido da nação que me habitava. Alta, magra e desajeitada em seu pelo de ouriço, um boteco velho junto do Hudson, a instantaneidade de uma antiga (e nunca tão nova) deusa transformada: fértil do ventre farto, das cores fortes, das pernas firmes que correrão ao socorro dos filhos na destreza de uma corsa crua. Virava e se debatia naquela fusão de Jazz e minha próxima transa, a Nova York como nunca depois vi.
Gael
Aí algumas delas:
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