domingo, 19 de janeiro de 2014

Poesia Sexo e Cachaça

Não sei o que mais chamou a minha atenção naquele apartamento cinza. 
Não sei se foi o excesso de espaço (resultado da pouca mobília – o dono dos pouco mais de 40 m² jura que é um ato de contracultura), se foi a atmosfera carregada de incenso que se dizia indiano, se foi a quantidade de garrafas e cores – que preenchiam um canto da sala. 
Ou será que foi a porta entreaberta do quarto que só me permitia ver a ponta do criado-mundo e as letras garrafais que me gritavam: ANTOLOGIA POÉTICA. 

O cenário por si só já me era deverás intrigante, mas o ápice foi quando comecei a ouvir um trecho que nascia baixinho, quase que como um sussurro:

o meu amor tem um jeito manso que é só seu 
Que me deixa maluca, quando me roça a nuca 
E quase me machuca com a barba mal feita 
E de pousar as coxas entre as minhas coxas 
Quando ele se deita...

Era o mais perfeito dos prelúdios.
Mal tive tempo de ouvir as primeiras palavras e já senti que meu corpo não me pertencia. Eu só obedecia. Obedeci quando ouvi: “tira o vestido”. E, em questão de segundos, comecei a sentir, literalmente, cada sopro de vento que entrava pela janela. 
Também obedeci quando, com os lábios colados em meu ouvido, ele disse: “agora abre as pernas e deixa eu fazer assim...”. Tive todos os sentidos invadidos. 
Minhas mãos seguiam o traçado que ele queria. 
Minha boca percorria o que ele quisesse. 
O cheiro que eu sentia já não era aquele misto suspeito de especiarias indianas, era um cheiro ainda mais intenso – cheiro das nossas peles, cheiro inconfundível de sexo. 
A única coisa que eu conseguia enxergar de forma nítida era o reflexo dos nossos corpos no espelho – ah, como ele me pegava com força. Não sei o que me dava mais prazer: se era sentir ele preso entre minhas pernas ou se era as marcas de tapas, arranhões e mordidas que ele deixava em meu corpo. 
Depois de entrar e sair, repetidas e deliciosas vezes, e me colocar de joelhos, ele me deu a última ordem: 
“agora engole”.



Branca

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