sábado, 30 de janeiro de 2010

Sobre o atalha para a pornografia em Nietzsche, Bergson e Faulkner.

Mantenha a cena: como se me encarasse do teatro, sapatos de salto vermelho-sangue, ela sentada em uma cadeira. Abria e fechava as pernas, tremendo de tesão, fazendo carinha de menina, boca rubra e o biquinho do peito, ah! No teatro. Todinha. “se não abrir minha blusa, violento e carinhoso e me sugar o biquinho dos seios, por certo hei de morrer*”. Bem assim. Jaqueline. Eu e meus amigos metidos a “cult” gostávamos de ir ao teatro, de sair com gente que se achava artista, com gente que acreditava que a sociedade era coisa do nosso tipo de sangue. Pensávamos que, quando ficássemos ricos, poderíamos usar essas referências do povinho intelectual (e das pessoas que comíamos, inclusive) pra alçar a vida e incrementar nossa biografia. Teatro, cinemateca, festa fechada, festival em cada cantinho metido da cidade. Eu ia, mas era pra ver a Jaqueline recitando aqueles textos pornográficos do Dalton... “ó meu santinho meu puto meu bem-querido se você não me estuprar agora, agorinha mesmo, sem falta hei de morrer*”. Ah, Jaqueline, Jaqueline! Como eu ficava duro e louco vendo você naquele quartinho depois da peça, cheio de gente pelada, como só no teatro pode ser, convidando com o olhar qualquer movimento obsceno que ainda, ainda permanecesse num estado de cena. Tanta bundinha gostosa, meus amigos. Eu, as bundinhas, meu terno, mais gente pelada, você trepando com seu guri putinho. Jaqueline. Você ao menos, algum dia, soube quem eu era? Eu? Um dos que estacionavam a aparência naqueles palcos, lá, cercado de banalidades, passando o vinho de mão em mão, a garrafa de cerveja, o begue de boca em boca. Lembra? O carinha de terno, geralmente no canto, olho fundo, nariz proeminente. Aquele que recitava Nietzsche, Bérgson e Faulkner se achando o intelectual do lugar.
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* O texto mencionado é de Danton Trevisan. Chama-se Cântico de Sulamita, e está publicado no livro A Gorda do Tike Bar.
Dois abraços especiais à BRANCA: O primeiro por ter me apresentado a peça de teatro cuja menininha recitava os cânticos, e o segundo por ter me presenteado com o texto em questão - na íntegra!
Abraços!

2 comentários:

  1. Gostei do post!
    Afinal, NOS LIMITES ENTRE LITERATURA E PORNOGRAFIA!
    E, detalhe: temos muito embasamento pra isso!!!
    yeah!
    E,se continuar colocando defeito, pode me devolver o livro em questão...ACEITO!

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Qualquer coisa que se encontre aqui é pornográfica. Mas apenas no ponto de transição onde nos encontramos. Tome o que valha nesse desafortunado ócio das auto-satisfações compulsivas.

- Nunca à pedofilia.
- Sexo sempre com segurança.

- Não a qualquer tipo de discriminação e preconceitos.

SEMPRE NOS LIMITES DA LITERATURA E DA PORNOGRAFIA. ESSE JOGO, PARA NÓS, É O QUE DÁ TESÃO...
Aproveitem.